CIAS - Consórcio Aliança para a Saúde - Hanseníase: campanha chama atenção para importância do diagnóstico precoce

21/01/2025

Hanseníase: campanha chama atenção para importância do diagnóstico precoce

Hanseníase: campanha chama atenção para importância do diagnóstico precoce

Enfermidade integra o Programa Brasil Saudável, que busca eliminar doenças que afetam mais ou somente pessoas em áreas de maior vulnerabilidade social

Francisco Faustino Pinto, de Juazeiro do Norte, 54 anos, é militante da causa do enfrentamento hanseníase - doença infecciosa crônica causada por bactéria que, apesar de ser tratável e curável, ainda representa um grande desafio de saúde pública. 

Faustino conta que foi acometido pela doença aos nove anos de idade, mas o diagnóstico só veio aos 18, quando ele viu uma campanha do Ministério da Saúde na televisão falando sobre os sintomas da doença. “Fiquei aliviado e feliz por ter recebido o diagnóstico correto, mas não sabia que haveria tanta discriminação”, diz ele, que procurou atendimento no Sistema Único de Saúde (SUS) onde foi comprovado o diagnóstico de hanseníase. 

O morador de Juazeiro do Norte também fala dos estigmas em volta da doença. De sua família, ele diz que teve apoio. Mas com os vizinhos sofreu preconceito por falta de conhecimento a essa enfermidade. “As pessoas temem o que não conhecem. Eu tinha nódulos, caroços, nariz desconfigurado. As pessoas tinham medo disso, mas tenho o lema de que quem não me respeita, não me merece. 

Hoje, ele é coordenador nacional do Movimento de Reintegração das Pessoas Atingidas Pela Hanseníase (MORHAN), que luta pela garantia e respeito aos direitos humanos das pessoas atingidas pela hanseníase e seus familiares, e conta com mais de 2 mil voluntários em todo o país. “Não precisamos sofrer ou vitimizar por conta da doença. A vida não para por conta da doença”. 

Casos como esse de Faustino reforçam a importância da detecção precoce da doença. Neste mês, o Ministério da Saúde promove o “Janeiro Roxo”, mês que também inclui o Dia Mundial de Enfrentamento da Hanseníase, celebrado no último domingo do mês - 26 de janeiro em 2025. 

O Brasil ocupa a segunda posição mundial em número de novos casos de hanseníase diagnosticados anualmente. Mesmo com a redução gradual na taxa de detecção ao longo dos anos, os números ainda são expressivos, especialmente em regiões com maior vulnerabilidade social. O país apresentou uma taxa de 10,68 casos por 10 mil habitantes, sendo classificado como de alta endemicidade. As regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste apresentam os índices mais preocupantes, com alta ou muito alta endemicidade. Em 2023, quase metade dos municípios brasileiros (49,9%) notificaram ao menos um caso da doença. 

A campanha deste ano, "Hanseníase, Conhecer e Cuidar, de Janeiro a Janeiro", tem o objetivo de promover ações contínuas de informação e conscientização sobre a doença ao longo de todo o ano. A iniciativa busca disseminar conhecimento sobre a hanseníase, além de enfrentar os estigmas associados à doença e fomentar o enfrentamento das barreiras sociais que dificultam seu diagnóstico e tratamento, com a ajuda de estados e municípios. 

Abandono do tratamento

Um dos principais desafios no controle da hanseníase é o abandono do tratamento. Entre 2014 e 2023, o Brasil registrou 247,1 mil novos casos de hanseníase, dos quais 6,6% foram encerrados por abandono. Esse índice passou de 4,5% em 2014 para 8% em 2023, um aumento de 78,7%. O abandono compromete a eficácia do tratamento, aumenta o risco de complicações graves, promove a resistência antimicrobiana e perpetua a transmissão da doença. 

A Hanseníase integra o Programa Brasil Saudável que tem o objetivo de eliminar doenças determinadas socialmente – isto é, doenças que afetam mais ou somente pessoas em áreas de maior vulnerabilidade social. A iniciativa está alinhada às diretrizes e metas da Agenda 2030 – Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, da Organização das Nações Unidas e à iniciativa da Organização Pan-Americana da Saúde (Opas) para a eliminação de doenças nas Américas. Assim, as ações do programa vão além do setor saúde, dialogando com outros setores do governo relacionados à moradia, renda, ao acesso ao saneamento básico e à educação, entre outras políticas públicas. 

 “Primeira campanha educativa que participei gerou 35% a mais de diagnóstico de casos. Toda vez que há divulgação, há aumento da disseminação da informação e diagnóstico”. Essa é a fala de Maria Leide de Oliveira, médica capixaba que exerceu a profissão por 45 anos, mas continua ativa na causa contra a hanseníase. De acordo com ela, campanhas como “Janeiro Roxo” auxiliam não só na divulgação, mas na discussão sobre o assunto, na construção de rodas de conversa e na avaliação de como as informações tem chegado à população. “O Brasil possui campanhas feitas pelo Ministério da Saúde, estados e municípios que lutam pela desinformação, prova disso é o controle da doença no país. Esse é o caminho: falar de hanseníase nas comunidades, acabar com o estigma, a vergonha e o preconceito”, diz Leide. 

Dados do Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan) revelam que os casos notificados aumentam geralmente no primeiro semestre, especialmente entre janeiro e maio, possivelmente influenciados pelo impacto das campanhas de conscientização do “Janeiro Roxo”. Por outro lado, observa-se uma redução nos registros nos últimos meses do ano. 

O que é a Hanseníase?

A hanseníase é uma doença infecciosa crônica, causada pelo Mycobacterium leprae. Sem diagnóstico e tratamento precoces, pode causar deficiências físicas permanentes e exclusão social. 

Sinais e sintomas comuns: 

  • Manchas (brancas, avermelhadas ou marrons) com alteração na sensibilidade ao calor, frio, dor ou toque.
  • Espessamento de nervos periféricos, causando alterações motoras ou autonômicas.
  • Áreas com redução de pelos e suor.
  • Formigamento, fisgadas e diminuição de força muscular (principalmente nas extremidades).
  • Nódulos dolorosos em casos mais graves. 

Transmissão:

A hanseníase é transmitida pelas vias aéreas superiores (espirro, tosse ou fala), geralmente após contato prolongado com pacientes não tratados na forma contagiosa (multibacilar). Objetos pessoais não transmitem a doença. 

Diagnóstico e tratamento:

O diagnóstico é clínico, com exames dermatológicos e neurológicos. O Sistema Único de Saúde (SUS) oferece tratamento gratuito com poliquimioterapia (rifampicina, dapsona e clofazimina). O tratamento dura de seis a doze meses, dependendo da forma clínica, e interrompe a transmissão nos primeiros dias de uso. 

Vanessa Rodrigues-Ministério da Saúde-Categoria-Saúde e Vigilância Sanitária